
Diversidade em Pauta: Retroceder jamais! DEI x MEI
Fui a uma palestra sobre Diversidade, Equidade e Inclusão há uns três anos atrás, em Campinas. Foi um dia incrível, com palestras edificantes e muito motivadoras!
Havia fora, um painel para se tirar fotos "instagramáveis", dessas para pôr no Linkedin e fazer a propaganda do evento...
Um grupo de mulheres negras estava se preparando para o "clique" delas, e foram gentilmente fotografadas por uma moça que ali estava de pé assistindo. A moça bateu várias fotos incríveis e pedi que tirasse a minha foto também!
Me dirigi ao painel, porque havia uma fila se formando para tirar as fotos e as mulheres que já tinham sido fotografadas continuavam paradas, admirando as fotos que a menina tinha tirado delas.
Pedi "com licença" para poder usar o painel e tirar também a minha foto e toquei no braço de uma delas quando fiz esse pedido.
Assim que terminei minha foto e agradeci a menina, duas das mulheres vieram rispidamente me dizer que eu tinha empurrado a amiga delas e que isso era racismo e que eu deveria pedir desculpas.
Fiquei tão desnorteada com o esporro que eu levei porque eu tinha certeza de que não havia empurrado ninguém, mas expliquei que havia tocado no braço de uma delas para que elas notassem que eu estava ali esperando também para tirar a minha foto.
Passado o susto inicial da abordagem ríspida, tentei ficar calma e expliquei que, de forma alguma, tinha sido minha intenção em ser grosseira e que estava disposta a pedir desculpas sim à amiga delas e pedi que me levassem a tal mulher ofendida. Mas, para minha surpresa, elas apenas repetiram que eu tivesse mais respeito no trato com as pessoas e que não empurrasse mais ninguém assim. Viraram de costas e fique ali muito sem graça com o que tinha ocorrido. Ainda fiquei olhando para tentar saber qual das amigas tinha se sentido ofendida e pensei em ir até lá pedir desculpas, mas tive muito receio.
Muito triste, decidi então me despedir de dois amigos que estavam no evento e fui para o estacionamento. Voltei chorando até São Paulo. Chorei, porque nunca foi minha intenção ofender alguém e, segundo, porque eu havia sido acusada de ter cometido racismo! Logo eu, que sou uma defensora do antirracismo!
Enfim, eu estava ali, naquele evento, levantando as mesmas bandeiras que muitos estavam levantando: contra o racismo, contra o capacitismo, contra a misoginia, o sexismo, contra a cis-heteronormatividade. Estava legitimamente, ouvindo às palestras, pensando em como somos seres humanos ainda precisando de muita evolução.
Fiquei magoada porque apesar da minha explicação, me julgaram como racista e mesmo me explicando, não fui ouvida.
Meu dia virou do avesso e saí de lá super triste por ter passado por isso.
Mas, por que escrevo sobre esse fato que aconteceu comigo?
Porque reações precipitadas e conclusivas como esta que aconteceu comigo, podem afastar pessoas boas que sejam apoiadores e estejam no "mesmo lado" nas lutas!
O extremismo em tudo, está tirando das pessoas o poder do raciocínio, do discernimento e da boa conversa. O mundo parece ser uma dicotomia! Ninguém mais pode falar de política, de futebol e nem de religião, tamanha a intolerância em ouvir o outro.
Temas de Diversidade e Inclusão que, na minha visão, continuam sendo um caminho sem volta às empresas (e no mundo), e que, quando aplicados da forma correta, geram benefícios para elas, estão sendo reavaliados em muitas empresas por conta da pressão política ou pressão do seu público-alvo.
O termo woke, que indica um “despertar” para questões como o racismo estrutural, foi criado pelos movimentos progressistas. Mas, de um tempo para cá, woke tem sido um adjetivo pejorativo usado como arma, com reflexos no mundo corporativo.
A cultura woke, que começou com a intenção de promover a conscientização sobre injustiças sociais e combater o racismo, a desigualdade de gênero e outras formas de discriminação, evoluiu para algo que, para muitos, passou a gerar mais polarização do que soluções.
Resgatado pelo movimento Black Lives Matter na última década, o termo ganhou a amplitude de outras discriminações e desigualdades que estão em pauta.
Mas, a insistência em transformar todas as questões em batalhas culturais cria divisões desnecessárias na sociedade, afastando o foco das verdadeiras soluções para os problemas que, originalmente, inspiraram o movimento.
Temos que "voltar à prancheta" e acertar arestas, repensar os erros do movimento e melhorarmos a comunicação, mas não cancelar de vez as ações de Diversidade e Inclusão.
Assim como não existe racismo reverso, porque racismo é algo histórico e estrutural e somente este é considerado racismo, também deve-se levar em conta que um indivíduo, apesar de fazer parte de um grupo de identidade (seja por raça, gênero, identidade, deficiência, entre outros), ele tem sua própria autonomia! É importante que os defensores da Justiça Social entendam que, nem tudo se baseia em "opressor" e "oprimido". Não podemos tratar tudo como uma dicotomia! Nem toda pessoa branca, de classe social mais alta, hétero e sem deficiência é um opressor, é um fato!
Existe gente ruim branca, preta, pobre, rica, mulher ou homem, sem ou com deficiência, cis ou trans! Infelizmente, tem gente ruim em todos os grupos e todos têm o livre arbítrio.
Há que ter cuidado com opiniões rasas, sem fundamento ou estudo. Repetir teorias sem nem entender seus conceitos ou fundamentos e se denominar apenas como "oposição", pode enfraquecer a abordagem DEI. E isso acontece em todos os grupos, favoráveis ou não ao DEI: de direita, esquerda, brancos, pretos, pobres, ricos, homens ou mulheres.
É fato que ainda existe muito racismo, que mulheres são menos remuneradas que os homens, que existem menos mulheres em cargos de liderança, que pessoas com deficiência tem menos oportunidades, que pessoas acima de 50 anos estão com problemas de recolocação no mercado de trabalho, que jovens têm dificuldade de conseguir o primeiro emprego e que pessoas da comunidade LGBTQIAP+ sofrem preconceito. Tudo isso tem dados e não vamos deixar de lutar quando injustiças acontecerem, mas precisamos sair dos extremos e trabalharmos juntos. E aliados são importantes, mesmo não tendo lugar de fala.
Há um movimento saindo de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) e indo para MEI (Mérito, Excelência e Inteligência). O mérito é super válido, desde que, os recrutadores, avaliadores e líderes, consigam fazer suas análises sem qualquer viés inconsciente. Porém, estudos em psicologia social mostram que as pessoas tendem a preferir aqueles que se parecem ou pensam como elas, mesmo sem perceber.
O termo sustentabilidade está totalmente relacionado com a palavra perenidade, com continuidade e com futuro. Na minha opinião, evoluir é sempre bom e ouvir ideias diferentes nos faz raciocinar e sermos mais criativos. Por isso, eu entendo que a união entre as duas propostas pode ser bastante interessante para o negócio.
O mérito apenas como um conjunto de critérios técnicos, sem levar em consideração as diferenças, deixa de aceitar e reconhecer as diferentes formas de excelência que surgem a partir de experiências diversificadas e de contextos diversos.
Da mesma forma, que a diversidade sem excelência técnica corre o risco de ser meramente simbólica e desmotivadora. Portanto, a única forma sustentável de avançar é integrar essas duas abordagens!
DEI complementa MEI ao garantir que um conjunto de talentos mais amplo e diverso seja considerado, permitindo que o mérito seja avaliado de forma mais justa.
Espero que tenham gostado e até o próximo artigo! Abraços grandes!
#diversidadeempauta #diversidadeeinclusao
https://www.meioemensagem.com.br/opiniao/a-falacia-da-separacao-entre-merito-e-diversidade