
Diversidade em Pauta - Maternidade e carreira
Há um pouco mais de 22 anos atrás nasceu meu primeiro filho, Thiago. Lembro-me da surpresa que fiz para o meu marido, Ariel, quando contei que íamos ser pais! Queríamos muito! Eu trouxe a impressão da foto do bebê feita em uma ultrassonografia... daquelas que pareciam um fax, sabe? Eu fui fazer um exame de rotina e acabei saindo de lá com essa notícia maravilhosa!
Foi uma gravidez muito tranquila, nada de enjoo e nem dores. Só tinha vontade de tomar água de coco e comer muito ovo... frito, mexido, quente, qualquer um servia, comia todos os dias!
Com 39 semanas, fui assistir meu marido jogar um campeonato de tênis e na volta, ainda no estacionamento, meu marido deu uma ré e enfiou o carro em um galho bem grosso de uma árvore milenar... O galho adentrou pelo vidro de trás do carro! Ele diz que a árvore é que entrou no carro e não ele que bateu nela! :-) Aham!
Bom, ali mesmo começaram as contrações e durante a madrugada, o Tico (apelido carinhoso) chegou!
Naquela época a licença maternidade praticada na IBM era somente de 4 meses (hoje, são 6 meses). Somei mais um mês de férias e voilá, com 5 meses, eu já voltava ao trabalho. Foi uma dor no coração imensa! Eu não gostava da ideia de ter babá e não tinha com quem deixá-lo, então, com 4 meses e meio comecei a adaptação na creche (no Rio de Janeiro é creche, em São Paulo escolinha). Bom, ele se adaptou melhor do que eu!
Como eu morava e trabalhava muito perto, eu ia, todos os dias na hora do almoço, até ele completar uns 9 meses, dar de mamar e brincar um pouquinho com ele. Uma empresa que respeita e permite que você faça isso é uma empresa de muito valor! Mas, não é somente a cultura da empresa que conta, seu gerente precisa ter empatia e praticar estes valores. E eu só tive gerente bom no Rio de Janeiro! Todos foram maravilhosos comigo, sempre que precisei. Por outro lado, procurava ser a melhor funcionária para eles. Afinal, é uma via de mão dupla, não é mesmo?
Lembro-me do dia que a Florinda, minha gerente na época que o Thiago nasceu, viu que eu estava exausta numa reunião, com muito sono, de verdade. Ela me chamou para saber se estava tudo bem. Expliquei que o Thiago estava acordando ainda todas as madrugadas para mamar e que, com o refluxo que ele tinha, demorava muito a voltar a dormir. Eu dormia praticamente 4 horas por noite e além do trabalho, ainda acumulavam vários afazeres em casa... eu estava realmente exausta.
Florinda:
-"Você gosta de cuidar da casa? Tem alguém que te ajuda em casa?"
Eu:
-"Tenho uma moça que vem uma vez por semana para arrumar a casa e passar a roupa, mas sobra muita coisa para mim."
Florinda então me disse:
-"A vida é feita de escolhas. Você não vai conseguir ser ótima mãe, ótima funcionária, ótima esposa e ainda ser ótima dona de casa. Os pratinhos vão começar a cair. Qual desses você aceita ser somente boa, qual desses você aceita mais ajuda?"
Foi então que conversamos, eu e meu marido, e decidimos nos apertar, mas aumentar em mais um dia a nossa secretária do lar. E foi perfeito. A roupa e a casa ficaram mais arrumadas e já foi um alívio para mim.
Três anos depois, quando engravidei do Arthur, eu estava no meio do processo da minha promoção à gerente de pessoas, minha primeira designação gerencial! Comuniquei à minha gerente a novidade e ela ficou muito feliz por mim! Dias depois fui anunciada gerente! Novamente, um exemplo de empresa e de líder que dão valor ao profissional! Agradeço demais à Fernanda por ter me dado esta oportunidade!
Quando eu já estava com 39 semanas, meu gerente, Drubi, me presenteia com um prêmio de liderança de pessoas, numa sala com todos os meus funcionários e vários outros gerentes! Adivinhem!? Dali mesmo fui para casa me arrumar para ir para a maternidade... as contrações vieram com tudo, tamanha emoção! Tuco (apelido carinhoso dele) chegou naquela madrugada!
Enfim, filho meu só nasce na emoção! Mas, aqui é Flamengo, estamos acostumados com emoção e com alegria! (risos)
Mas voltando ao tema, maternidade e carreira!
Quando temos filhos pequenos, alguns compromissos aparecem. Reuniões e apresentações na escolinha e toda hora levar à algum médico. Mas eu procurava administrar muito bem meu tempo no trabalho. Sempre me antecipava para deixar tudo bem adiantado e nunca falhar nos prazos. Se tivesse que trabalhar até mais tarde, eu e meu marido sempre nos ajudávamos. Afinal, parceria é isso!
Sempre gostei de aprender e inovar no que fazia, seja num relatório ou em um processo, pois, por mais repetitivo que seja, sempre há como fazer melhor. E na vida de mãe, não é diferente, são muitos erros, acertos e correções de rota, sempre tentando fazer o melhor.
Pensando na função de liderança em casa e na carreira, penso que, como líder de pessoas e mãe, eu podia perceber que, às vezes, tanto o que aprendia no trabalho podia ser usado em casa, como o que eu aplicava em casa podia ser usado no trabalho!
É sério! Não estou brincando!
Filho te ensina a negociar, o que pode e o que não pode. Filho testa sua paciência ao máximo. Com filho, principalmente do tipo "Arthur", você precisa dar todos os argumentos possíveis para explicar por que tal coisa não é permitida. Filho te ensina a ver simplicidade nas coisas. Você volta a ver desenho animado! Você reaprende a ser criativo, palhaço, brincalhão. Você passa a agradecer por tudo! Pela saúde, pelo trabalho, pelos amigos, pelas professoras, pelos amiguinhos, pelo dia de sol, até mesmo a Xuxa eu agradecia! Você também agradece muito, muito mesmo, quando eles dormem!! (risos) :-)
O funcionário, por outro lado, ele te ensina a perguntar, a ouvir com atenção. Funcionário te traz novas ideias, novas experiências, novos argumentos. Se você for um líder que se importa realmente com pessoas e que tem empatia, você se torna, muitas das vezes, um confidente. Você ajuda o próximo e isso te faz muito bem. Você aprende a pensar em soluções diferentes e rápidas, para resolver problemas. Você aprende a discutir com respeito. Você defende seus funcionários e briga por suas carreiras. Você vira vendedor de gente... você "vende" a avaliação, a promoção, o aumento, o prêmio! Você elogia e recebe elogios. Você passa mensagens mais duras, apesar de respeitosas, mas com desejo que o outro melhore, genuinamente. Você ganha amigos e aprende o sentido da palavra parceria.
Os filhos crescem e viram adultos e você percebe que todas as noites em claro valeram a pena. Que cada "bronca" que você deu, ajudou para fazê-los crescerem pessoas do bem e respeitosas. Que cada tempo dedicado às muitas leituras, aos filmes assistidos mais de uma vez, às brincadeiras na praia, na pracinha, no clube ou no "play" do prédio, valeram muito a pena. Que a amizade gerada entre filho e mãe, é o maior presente que podemos ter. Você ainda continua a agradecer muito quando eles chegam da rua e dormem, em casa!! (risos)
Os funcionários são “seus” por um tempo e depois seguem seus caminhos. Alguns você consegue ajudar mais, outros nem tanto, mas todos fizeram parte da sua história. Tenho muitos funcionários queridos e inesquecíveis (me passam vários rostinhos no pensamento, enquanto escrevo) que, até hoje, me mandam mensagens carinhosas. Muitos deles, se dizem gratos por eu ter sido a “chefe” deles, dando exemplos de coisas que fiz por eles e que os marcaram. E isso, é o melhor depoimento e presente que eu posso ter! Eu também tive os meus “chefes” queridos aos quais sou muito grata!
A história da Márcia funcionária e mãe é igual ou parecida à história de outras várias mulheres que admiro. Sempre com muita dedicação, muito jogo de cintura, muita negociação e com certeza muita habilidade, mulheres como nós, chegam aonde querem chegar!
E assim segui minha carreira, de gerência em gerência, de área para área. Aprendi o espanhol, expandi meu atendimento de US para América Latina e fui crescendo! Pouco a pouco! Mudei de estado, saí do Rio de Janeiro e vim pra São Paulo. Conheci mais um montão de gente interessante e fiz outras grandes amizades verdadeiras.
Segui mudando de áreas em São Paulo e sempre buscando novos aprendizados. Fui promovida mais uma vez. Tomei algumas "pancadas", normais no dia a dia em empresas, tive algumas decepções, mas nada que me derrubasse.
Durante os últimos dois anos na empresa, já era a Kyndryl e não mais a IBM, conheci a área de Diversidade e Inclusão e como Líder desta área, encontrei pessoas com a mesma paixão que eu, em pensar no coletivo e em incentivar uma cultura inclusiva. E não quero mais sair!
Mas, depois de 29 anos de uma carreira cheia de histórias, verdadeiros amigos conquistados e muita experiência adquirida, me aposentei e saí!
Os filhos crescidos, um se formando e o outro na faculdade, quase nem precisam mais de mim (e isso é bom... fiz meu papel, mantendo o meu colo aberto para recebê-los sempre que precisarem!).
E pensam que minha história acaba assim? Que nada!
Estou só recomeçando!
Com uma nova roupagem, mas com a mesma essência de sempre e uma bagagem de muitas experiências, aprendizados, habilidades conquistadas!...
...E a eterna gratidão por ter tido a oportunidade de ser uma ótima mãe e profissional!
Dedico meu texto a todas as mães maravilhosas que têm por aí, aos meus filhos, que se tornaram adultos maravilhosos, ao meu marido e parceiro Ariel e a todos os meus gerentes que ajudaram na minha carreira!
Abraços! E até o próximo artigo!!
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