
Diversidade em Pauta - Nem-nem
O dia 28 de abril foi instituído pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 2000, durante o Fórum Mundial de Educação realizado na cidade de Dakar, no Senegal, como o Dia Mundial da Educação.
Infelizmente, o que quero trazer neste artigo são os dados, tristes e alarmantes, sobre nossos jovens brasileiros. Vamos falar sobre os 10,9 milhões de jovens que NEM estudam e NEM trabalham, os chamados "Nem-nem".
De acordo com o último censo do IBGE e com o Estatuto da Juventude, os jovens de 15 a 29 anos de idade enfrentam maior dificuldade de ingresso e estabilidade no mercado de trabalho, tendo em vista sua inexperiência, representando o grupo mais vulnerável, especialmente entre os menos qualificados.
Porém, considerando estas condições desfavoráveis do desemprego entre eles, os jovens deveriam tender, então, a permanecer mais tempo no sistema de ensino, adquirindo qualificações, que contribuiriam para reduzir essa vulnerabilidade no futuro.
Mas, isso só ocorre quando o investimento público em educação torna atrativa a continuidade dos estudos a ponto de contrabalançar o aumento do desemprego.
O indicador de jovens "nem-nem", incluem tanto os que buscam trabalho, mas não conseguem, como também os que não buscam, podendo ou não trabalhar, ou não querem. Esse indicador mostra os jovens que nem ganham experiência laboral e nem qualificação, ensino, comprometendo suas possibilidades ocupacionais futuras.
Dados de 2022 da população de jovens entre 15 e 29 anos (total de 48,9 milhões de jovens):
- Só estuda = 24%
- Só trabalha = 41,3%
- Estuda e Trabalha = 12,4%
- Nem estuda e Nem Trabalha = 22,3% (¹)
(¹) Destes 22,3% - População de Jovens "nem-nem" (10,9 milhões de jovens):
- Mulheres nem-nem = 64% (²) (deste total, 68% são mulheres negras)
- Homens nem-nem = 36% (³) (deste total, 68% são homens negros)
(²) Das 64% de Mulheres "nem-nem":
- Não querem ou não podem trabalhar = 71%
- Querem trabalhar mas não conseguem emprego = 29%
(³) Dos 36% de Homens "nem-nem":
- Não querem ou não podem trabalhar = 64%
- Querem trabalhar mas não conseguem emprego = 36%
As justificativas da população Nem-Nem separadas por gênero e por querer/poder trabalhar ou não:

Além disso, do total de 10,9 milhões de jovens que não estudam e não estão ocupados, 14,8% são extremamente pobres, com renda per capita abaixo de US$ 2,15 por dia, e 61,2% são pobres, com menos de US$ 6,85 por dia, de acordo com as linhas de pobreza do Banco Mundial para o monitoramento da extrema pobreza e da pobreza do Brasil.
E se ainda olhar estes números por região do Brasil, sobre os extremamente pobres e pobres, a maioria deles está no Nordeste, assim como a maior parte da população de jovens negros e mulheres.
A cientista política, Luciana Santana, reforça que a relação da ocupação da mulher no mercado está mais voltada aos trabalhos de cuidado e há ainda muita desigualdade de gênero.
Carolina tem 22 anos e nunca trabalhou formalmente. Aos 17 anos teve que abandonar o Ensino Médio para cuidar da mãe e, posteriormente, se casou. Desde então, não voltou mais à sala de aula. Saiu do município de Viçosa, em Alagoas, e foi morar com o marido em um povoado do município de Santana do Mundaú, a 100km de Maceió. Hoje, com um filho de 4 anos e outro de 6 meses, se dedica aos afazeres domésticos.
“Queria muito estudar, mas não tem como, porque moro muito distante das escolas. Se tivesse pelo menos uma creche onde meus filhos pudessem ficar, seria bom para que eu pudesse concluir os estudos ou até trabalhar”, lamenta Carolina (reportagem Agência Tatu, 2024).
Por outro lado, um outro dado importante na contramão do que incentivamos: mais de um milhão de brasileiros de 14 a 17 anos estão em situação irregular de trabalho infantil! Claro que, o ideal mesmo é que eles estivessem estudando, mas se precisam e querem trabalhar, então que seja pelo menos de forma regular, como um Jovem Aprendiz por exemplo.
O Estadão mostrou que, em uma série de reportagens sobre o tema destes jovens, se estes 10,9 milhões trabalhassem, o potencial de crescimento do nosso PIB poderia chegar aumentar em 10 pontos percentuais.
Na minha opinião, em resumo, vejo alguns pontos que precisariam de maior atenção por conta do poder público:
- Melhoria nos serviços de transporte;
- Maior oferta de creches públicas;
- Escolas técnicas são uma ótima opção para estes jovens, mas precisa haver a integração entre ensino regular e escolas técnicas públicas;
- Investimentos em treinamento laboral;
- Maior adesão dos jovens aos programas de jovens aprendizes (a Casa José Coltro, que conheço, faz um trabalho bom com os jovens aprendizes, trabalhando não somente a parte técnica, mas incentivando o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como autoconfiança, liderança e trabalho em equipe);
- Ajudar os jovens a reduzir a taxa de gravidez de adolescentes, que contribuem no abandono escolar e na inserção no trabalho.
Espero que tenham gostado e até o próximo artigo! Abração!
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Casa José Coltro: https://casajosecoltro.org.br/index.asp?opc=jornada_transformacao
